VERSOS E POESIA
Cante Alentejano
Depois de um dia de luta
Mal comido e muita dor
Farto da muita labuta
Chega á taberna em esplendor
Traz na alma um desejo
Que lhe chegou de mansinho
Expelir cante em desejo
Molhado num copo de vinho
Outro se junta na moda
Fica para trás o cansaço
Entoam a aldeia toda
Com cheiro a vinho e bagaço
As modas do antigamente
Relembram mestres de outrora
Sofrimentos desta gente
Começam ao romper da aurora
O cante que fala da luta
Dos amores e da paisagem
Fala de flores e de fruta
Com a mais bela linguagem
O cante que entoa a aldeia
Nasce a caminho das jornas
Cresce á luz da candeia
Começando em trovas mornas
Mas é no balcão da taberna
Que se torna como um hino
Como irmandade fraterna
Tem no publico um menino.
O cantar tem que se lhe diga
Não pode haver um engano
Chama-se moda á cantiga
Neste cante Alentejano
Por: Francisco Almeida

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Freguesia de Vale de Vargo
Vivo numa linda aldeia
Bem junto ao enxoé
Mas tenho cá uma ideia
Que me faz bater o pé
Gosto de aqui viver
Seja noite ou seja dia
Mas não aceito, perder
A Junta de Freguesia
Tenho de bater o pé
Tenho de estrebuchar
De todo não perco a fé
Por isso tento lutar
Agora somos aldeia
Sem poder de decisão
Tenho na mente esta ideia
Que é dizer sempre não
O povo não está contente
Com o rumo que isto leva
Com o poder que nos mente
Chamando ao travisco, esteva
O poder não é do povo
O querer não é poder
Eu desejo um rumo novo
À terra que me viu nascer
Não quero ser de outro lado
Nem outra cultura ter
Rejeito ser enganado
Soberania, quero voltar a ter
Escrevo aqui algumas linhas
Mas com um certo amargo
Quero que volte o que tinhas
Freguesia de Vale de Vargo
Francisco Almeida

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As pedras do Adro
Sentei-me à soalheira
Nas pedras junto à igreja
Em modos de brincadeira
Puxei assunto que inveja
Falei desta nossa aldeia
Dos tempos de antigamente
Fiquei logo com a ideia
Que o povo não está contente
O assunto era do agrado
Destes senhores de outrora
Neste tribunal sagrado
Julga-se o antes e o agora
Condena-se o pecador
Enaltece-se o ganhão
Seja pedreiro ou doutor
É caso de comparação
Juízes de soalheira
São senhores de opinião
Desde a poda à sementeira
E aos destinos da nação
Cada um tem uma história
Cada um tem seus saberes
Falam de gentes e glória
Falam de homens e mulheres
Sentado no adro ao solinho
Fui ouvindo as sentenças
Conversas feitas baixinho
Ideias daquelas cabeças
Ali se passam as tardes
Destes homens de outro tempo
São ditas muitas verdades
Defendido, muito argumento
Francisco Almeida

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A mula
Numa terra alentejana
Aconteceu um milagre
Uma mula bem magana
Surpreendeu até o padre
Coisa do arco da velha
Ou história de admirar
Com a pulga atrás da orelha
Lá vou ter de a contar
Um coice na natureza
Lá diziam os jornais
Uma coisa é certeza
Espantou os filhos e os pais
A mula do senhor Rafael
No campo andava a pastar
Mesmo presa por um cordel
Um burro a veio emprenhar
Parece que ninguém viu
E passado alguns meses
A mangana da mula pariu
Deixando o povo em fezes
Logo que se espalha a notícia
E sem fazer muito estrago
Nem cá faltou a Polícia
A ver a mula de Vale de Vargo
Teve muitos visitantes
Só eu contei mais de mil
Vindos de terras distantes
Depois do 28 de Abril
Mau agoiro ou má sorte
Dizia um cigano gago
Ouvia-se lá no norte
Pariu uma mula em Vale de Vargo
Francisco Almeida

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